terça-feira, 12 de julho de 2011

"A tese das almas gémeas é uma fraude, mas é verdade que há uma pequena percentagem de corpos incompatíveis, uma alta percentagem de corpos compatíveis e uma minoria de corpos feitos um para o outro. Quando se tem a sorte de encontrar esse corpo que se funde no nosso como o mar com o horizonte num dia de Verão, isso é a felicidade. Nem o amor nem o sexo servem para definir essa fusão. Trata-se de um fenómeno mais simples e mais complexo, assustador pela sua grandeza. Há quem fuja deste encontro como da peste; se eu me tivesse deitado com Margarida aos vinte anos, teria certamente fugido dela com todas as minhas forças. Nessa época não só não acreditava no amor, como fazia da Liberdade uma espécie de deusa exigente erguida sobre um pedestal altíssimo. Livre sou-o agora, pela primeira vez, quando entro no corpo da Margarida, quando me inebrio com o cheiro e o toque da sua pele e deixo de saber quem sou."


Inês Pedrosa, "Os Íntimos"

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