sábado, 14 de julho de 2012

Há pouco, em conversa com uma amiga: Ele que fique com uma mulher que seja como ele acha que são as mulheres.

terça-feira, 10 de julho de 2012

"Às vezes penso: este povo é bem intencionado, mas ignorante; procederia melhor se soubesse como proceder; porque hei-de eu sujeitar os meus vizinhos ao incómodo de me tratarem diferentemente do que é sua intenção? Mas depois penso: não há motivos para eu proceder como eles procedem ou para consentir que outros sofram tormentos maiores, se bem que de outra espécie. E digo também muitas vezes de mim para mim: quando muitos milhões de homens, sem violência, sem má vontade, sem qualquer proveito pessoal, te pedem uns escassos xelins, sem qualquer possibilidade, nas actuais circunstâncias, de alterarem tal exigência, e sem tu, por teu lado, teres qualquer possibilidade de apelar para outros milhões de homens, de que te serve expores-te à rudeza duma força tão inelutável? Ao frio, à fome, aos ventos e às ondas, nunca opões uma obstinação tão grande; nunca opões resistência a toda uma série de necessidades similares. Não colocas a cabeça em cima de uma fogueira... É que, na medida em que não considero essa força completamente bruta, mas sim parcialmente humana, e porque considero que estou relacionado com esses milhões como estou com muitos outros milhões de homens e não com seres brutos ou inanimados, acredito que lhes resta a possibilidade de requererem o auxílio, primeiramente, com a maior urgência, do Criador, e em segundo lugar, o auxílio dos outros. No caso de eu colocar deliberadamente a cabeça no fogo, não se justifica que depois me queixe do fogo ou de quem o criou; deverei, sim, queixar-me de mim próprio. Se eu estivesse convencido de que tenho o direito de estar satisfeito com os homens, tais como eles são, e de com eles lidar de acordo com esse facto e não de acordo com as minhas exigência ou com a ideia que faço do que eles e eu devemos ser, seria, como os bons muçulmanos e os fatalistas, obrigado a contentar-me com as coisas, tal como elas são, dizendo que Deus assim o quer. E, além do mais, entre resistir a esta e a outra força natural inteiramente bruta, há uma importante diferença: a esta, posso efectivamente opor resistência. Pelo contrário, não me é possível, como a Orfeu, mudar a natureza das pedras, das árvores e dos animais.
Não é meu desejo travar combate com qualquer homem ou nação. Não desejo fazer distinções miudinhas, usar de grande rigor, colocar-me na posição de superior ao meu vizinho. Posso até dizer que faço esforços para me conformar com as leis desta terra."

Henry David Thoreau, "A Desobediência Civil"

quinta-feira, 5 de julho de 2012

"As estradas eram percorridas por loucos do volante, estupidamente orgulhosos da sua condução desportiva e que enchiam cemitérios e unidades de cuidados intensivos com as suas vítimas.
Nas fábricas e nos escritórios, operários e empregados eram obrigados a trabalhar como máquinas e dispensados quando se cansavam. Os patrões exigiam um rendimento permanente, humilhavam e rebaixavam os seus subordinados. As mulheres eram assediadas: havia sempre um espertalhão convencido que lhes beliscava as nádegas já de si massacradas pela celulite. Os homens eram constantemente pressionados para serem bem-sucedidos, e nem umas curtas férias os libertava desse fardo. Os colegas vigiavam-se mutuamente com raiva, desforravam-se nos mais fracos, levando-os ao esgotamento nervoso ou a coisas ainda piores.
Se a pessoa bebia, começava a ter problemas no fígado e no pâncreas; se comia à vontade, o índice de colesterol aumentava; se fumasse, agarrava-se-lhe aos pulmões um cancro assassino - fizesse o que fizesse, o finlandês arranjava sempre maneira de culpar o vizinho. Alguns praticavam jogging dogmaticamente, até caírem exaustos no meio da pista coberta de cinza. Quem não corresse, ficava obeso, sofria das articulações e das costas e, no fim de contas, morria à mesma com uma paragem cardíaca.
Em conversa sobre todas estas coisas, os suicidas começavam a dizer-se que, bem vistas as coisas, até estavam em melhor situação que os seus compatriotas, obrigados a permanecer na sua sinistra pátria. Esta constatação encheu-os de felicidade pela primeira vez há muito tempo.
Mas todo o grupo tem o seu desmancha-prazeres. Seppo Sorjonen, o empregado de mesa a recibos verdes, começou a evocar as suas lembranças da Finlândia sem pedir licença a ninguém. O pior era que as suas recordações eram todas, sem excepção, positivas! Deu como exemplo a sauna. Sorjonen achava que só o facto de existir sauna pressupunha já que nenhum finlandês, quaisquer que fossem as circunstâncias, teria alguma vez o direito de se suicidar - pelo menos, não antes de um bom banho de vapor."

Arto Paasilinna, "Um Aprazível Suicídio em Grupo"