Nas fábricas e nos escritórios, operários e empregados eram obrigados a trabalhar como máquinas e dispensados quando se cansavam. Os patrões exigiam um rendimento permanente, humilhavam e rebaixavam os seus subordinados. As mulheres eram assediadas: havia sempre um espertalhão convencido que lhes beliscava as nádegas já de si massacradas pela celulite. Os homens eram constantemente pressionados para serem bem-sucedidos, e nem umas curtas férias os libertava desse fardo. Os colegas vigiavam-se mutuamente com raiva, desforravam-se nos mais fracos, levando-os ao esgotamento nervoso ou a coisas ainda piores.
Se a pessoa bebia, começava a ter problemas no fígado e no pâncreas; se comia à vontade, o índice de colesterol aumentava; se fumasse, agarrava-se-lhe aos pulmões um cancro assassino - fizesse o que fizesse, o finlandês arranjava sempre maneira de culpar o vizinho. Alguns praticavam jogging dogmaticamente, até caírem exaustos no meio da pista coberta de cinza. Quem não corresse, ficava obeso, sofria das articulações e das costas e, no fim de contas, morria à mesma com uma paragem cardíaca.
Em conversa sobre todas estas coisas, os suicidas começavam a dizer-se que, bem vistas as coisas, até estavam em melhor situação que os seus compatriotas, obrigados a permanecer na sua sinistra pátria. Esta constatação encheu-os de felicidade pela primeira vez há muito tempo.
Mas todo o grupo tem o seu desmancha-prazeres. Seppo Sorjonen, o empregado de mesa a recibos verdes, começou a evocar as suas lembranças da Finlândia sem pedir licença a ninguém. O pior era que as suas recordações eram todas, sem excepção, positivas! Deu como exemplo a sauna. Sorjonen achava que só o facto de existir sauna pressupunha já que nenhum finlandês, quaisquer que fossem as circunstâncias, teria alguma vez o direito de se suicidar - pelo menos, não antes de um bom banho de vapor."
Arto Paasilinna, "Um Aprazível Suicídio em Grupo"
lol! Isto promete! Será que na Finlândia as coisas não são como estão descritas no início da citação? Ou será que a mera existência de saunas faz toda a diferença? É porque eu diria que se trata de uma descrição do infernozinho em que vivemos mergulhados, nós, das sociedades ditas industrializadas, sem grande excepção... mas se a Finlândia fosse diferente, era de reconsiderar a proposta do sr. primeiro ministro... :P
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