segunda-feira, 14 de setembro de 2015

"E, no entanto... se pudesse ter-se dado o caso de voltarem outra vez àquele inocente e venturoso estado que perderam; se alguém os tivesse consultado, perguntando-lhes: «Quereis voltar a ele?», ter-lhe-iam respondido resolutamente que não. A mim, diziam-me: «Bom, seremos mentirosos, maus e injustos; sabemo-lo e lamentamo-lo, e essa é a nossa tortura, e talvez por isso nos atormentemos e castiguemos mais do que faria esse Juiz misericordioso que há-de julgar-nos no futuro, mas cujo nome nos é desconhecido. Mas, em compensação, possuímos a ciência, e graças a ela havemos de tornar a encontrar a verdade, e então aceitá-la-emos já com consciência. O saber está acima do sentimento; o conhecimento da vida... acima da própria vida. A ciência há-de tornar-nos omniscientes; a omnisciência conhece todas as leis, e o conhecimento da lei da felicidade... está acima da própria felicidade.» Era assim que eles me falavam e, a avaliar por tais palavras, cada um deles se tornara mais apreciador de si próprio que dos outros e se valorizava a si próprio mais que tudo no mundo; sim... e não poderia ter sido de outro modo."

Fiódor Dostoiévski, O sonho dum homem ridículo

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

"Um homem que pensa que tudo o que não percebe deve ser desonesto e que, na primeira oportunidade que tiver, está moralmente obrigado a dizer a terceiros o que não tem nada que contar. Como eu digo, se eu pensasse, de cada vez que um homem fizesse qualquer coisa que eu não percebesse, que ele tinha de ser desonesto, creio que não tinha trabalho algum em encontrar naqueles livros, lá no fundo, qualquer coisa em que não se visse alguma utilidade em ir dizer a alguém o que eu pensasse que eles deveriam saber, sobretudo quando tenho alguma razão em suspeitar que eles poderiam saber mais do que eu, e, se o não soubessem, eu não teria nada com isso."

William Faulkner, O Som e a Fúria