quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"Desde o primeiro sopro que assim é: a palavra é o tempo de vida dos humanos.
É evidente que nós, mulheres, homens, crianças ou velhos, somos palavras de carne, movimentos de carne, vidas e emoções de carne. E o tempo que passa nessas carnes foge e consome-as na sua dissipação. Reduz a mais sublime das matérias, a pele sedosa e a tez rósea, a esse nada de pó que um sopro infantil consegue dispersar.
O Verbo, porém, é imortal. Não sucumbiu a nenhum furor, nenhuma massa o destruiu; nenhuma fogueira, nem mesmo as mais dementes de séculos ricos em massacres, o consumiu. Surgiu com o espírito do ser humano, não com a sua carne. E nunca, nunca desde o primeiro dia, se calou.
Nada se cria fora do Verbo, tudo sucumbe na sua presença. São fracos os que o ignoram; são grandes os que sabem inclinar-se perante esse poder. Humanos, simples humanos, acreditamos que só a carne gera carne. Que cegueira, que ignorância! A respiração, os batimentos do coração repleto de sangue são igualmente fruto das palavras que o Eterno colocou na nossa boca."
Marek Halter, "O Cabalista de Praga"

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