domingo, 8 de abril de 2012

"Logo no dia seguinte mandei o meu manuscrito a Atlas. Posso ser singularmente rápido em certas circunstâncias. Depois esperei. Passo a minha vida à espera dos outros. Tudo o que pedem neste mundo, executo-o o mais depressa possível, segundo creio, e muito conscienciosamente; concluo um texto de acordo com o deliberado e prometido, mesmo que tenha de passar noites em branco. Mas estou sempre à espera dos outros. Já aos quinze anos, ainda fedelho, era sempre o primeiro a chegar ao cemitério, o ponto de reunião para as nossas rapinas, e esperava pelo resto do bando. Os outros só servem para me refrear na vida, bloquear a minha energia, matar-me, enfim. Uma visão que, como podem ver, coincide com o olhar de Gatsby sobre outrem; o amo e o servidor têm o mesmo temperamento de uma cana que a gente ao redor faz tudo para refrear. É bem certo que Gatsby se sai mais airosamente que eu. Voa de Concorde ou no seu avião privado. Tem a ilusão da velocidade, do movimento e da energia. Eu cá, permaneço nesta insensata espera. Os meses passam, seguem-se os anos, e beber este insípido xarope quotidiano, sobreviver a esta triste rotina, em tal consiste o heroísmo. Muito mais difícil do que fazer uma surtida debaixo das balas, o género de proeza que, se me dão licença que contradiga a opinião corrente, não exige senão um efémero esforço de vontade. Tenho a certeza de que poderia conservar as mãos nos bolsos e o charuto no bico, e o sorriso nos lábios, frente ao pelotão de execução. Estou pronto! Mas este ramerrão de merda mata-me, às vezes sinto que não falta muito para estourar, fazer disparates."

"O que é interessante nos trabalhos físicos é que eles permitem que nos abandonemos ao curso dos nossos pensamentos."

Edward Limonov, "história de um poeta mordomo"

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