segunda-feira, 14 de maio de 2012

"«... Havia uma lua grande no meio do mundo. Os meus olhos perdiam-se, a olhar para ti. Os raios da lua filtravam-se sobre a tua cara. Não me cansava de ver essa aparição que tu eras. Suave, esfregada pela lua; a tua boca macia, húmida, irisada de estrelas; o teu corpo cada vez mais transparente na água da noite. Susana, Susana San Juan.»
Quis levantar a mão para ver mais nitidamente aquela imagem, mas as suas pernas retiveram-na como se esta fosse de pedra. Quis levantar a outra mão e foi caindo devagar, de lado, até ficar apoiada no chão como uma muleta que sustentava o seu ombro desossado.
«Eis a minha morte», disse.
O sol partiu, girando sobre as coisas e devolvendo-lhes a sua forma. A terra em ruínas estava diante dele, vazia. O calor aquecia o seu corpo. Os seus olhos quase não se mexiam; saltavam de memória em memória, desfigurando o presente. De repente, o seu coração detinha-se e parecia que também o tempo e o sopro da vida se detinham.
«Desde que não seja uma nova noite», pensava ele.
Porque tinha medo das noites que enchiam a escuridão de fantasmas. De ficar fechado com os seus fantasmas. Era disso que tinha medo."

Juan Rulfo, "Pedro Páramo"

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