quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Se tivesse suspeitado de que, um dia, cairia vítima do seu próprio saber, nunca teria escolhido essa terrível profissão; se fosse um simples funcionário virtuoso ou um artesão com sentido artístico, teria levado uma vida decente, sem a necessidade de fugir de si próprio. O filósofo Sócrates errara - e não devia ter sido a primeira vez - ao dizer que o saber é o único bem da humanidade e a ignorância o único mal. A ignorância pode significar uma grande fortuna e o saber uma ignorância atroz, havendo disso incontáveis exemplos. E, em geral, não se tem má intenção quando se diz que os ignorantes são os mais felizes: é que são mesmo. A sua vida é um paraíso e o seu ganha-pão não é afectado por nenhum matagal de dúvidas, que possa ficar impenetrável ao  seu saber, porque o saber não é senão uma forma, sempre repetida, de dúvida."

Philipp Vandenberg, "O Quinto Evangelho"

1 comentário:

  1. Hummm... ideia interessante, porém, polémica. Continuo a gostar da ideia de Sócrates; se o saber traz problemas, é porque é um saber sem sabedoria, banhado, portanto, de ignorância... Segundo a filosofia oriental, todo o sofrimento tem como origem a ignorância que é, contudo, à partida, uma condição necessária a que existamos. No entanto, é essa mesma condição que, apesar de nos ser inerente, viemos combater. Procurar não apenas o conhecimento, mas a sabedoria, é a nossa missão; algo em que acredito, pois acredito também que é aí que reside a chave da nossa felicidade... :)

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