quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"«Se eu cometo uma vileza de cumplicidade com alguém, o meu cúmplice está automaticamente autorizado a revertê-la para mim.
Castigar uma traição?! Mas se nem sequer chegou a haver infidelidade... Nós só somos fiéis aos próprios sentimentos.
Se eu não atraiçoo A, não é porque ele me ame, mas porque eu o amo a ele. Traí-lo seria atraiçoar os meus sentimentos, conspurcá-los, deixá-los em carne viva. Se eu não começar por ser fiel a mim próprio, nunca acabarei por sê-lo a A.
De resto, o amor que nós temos aos outros, antes de ser já existia dentro de nós. Amámo-lo sempre através de nós próprios, das nossas reacções. Os outros são o zenite "para onde" e não "de onde" convergem as nossas emoções.
Se eu me apaixono violentamente por A é porque ele me impressionou e não porque eu o impressionei a ele. Ele veio de certo modo preencher o vácuo de forma a não deixar o menor espaço vazio.»
Apunhalar o nosso amor é fazer sangrar essa força presente e sempre viva dentro de nós.
Não havia traição, portanto. Ele faria o mesmo..."

Natália Correia, anoiteceu no bairro

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