Esta necessidade (egoísta) de responsabilidade exclusiva pela dor do outro - que mais ninguém seja responsável pela tua dor senão eu - coloca a par a unidade e a exclusividade na origem do sofrimento. Se mais ninguém existe senão tu, por onde mais poderei sofrer? Ou, sob outro ponto de vista: eu sou o proprietário da tua dor.
Como alguém que realmente leva no bolso a chave que abre o cofre das dores do outro, numa estranha mistura entre bondade e instinto perverso. Porque um cofre é uma caixa que se pode fechar ou abrir. E quem tem a chave decide.
No fundo, devemos recordar essa pergunta fundamental que surge em O Salteador de Robert Walser:
"As pessoas que vivem consigo são felizes?""
Gonçalo M. Tavares, Atlas do corpo e da imaginação
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