terça-feira, 7 de junho de 2011

"Ao ver a mulher na sua atitude característica, braços grossos erguidos para a corda da roupa, garupa possante espetada para trás como uma égua, Winston achou-a, pela primeira vez, bela. Nunca antes lhe passara pela cabeça que o corpo de uma mulher de cinquenta anos, monstruosamente inchado por gravidezes e depois endurecido, maltratado pelo trabalho até ficar com a textura áspera de um nabo velho, pudesse ser belo. Mas era-o, de facto; e afinal de contas, pensou ele, porque não? O corpo sólido, sem contornos, semelhante a um bloco de granito, e a pele vermelha, rugosa, estavam para o corpo de qualquer rapariga como o fruto da roseira está para a rosa. Porque é que o fruto haveria de ser menos prezado do que a flor?"

George Orwell, "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro"

Sem comentários:

Enviar um comentário