terça-feira, 7 de junho de 2011

"«Se estiver a dizer disparates, corrige-me. Mas cada vez mais acredito que só vale a pena ler um romance - neste caso, um bom romance - quando temos uma pergunta na cabeça para a qual não sabemos a resposta. Ou, mesmo que tenhamos encontrado a resposta, se precisarmos de confirmação.»
Fiquei intrigado. Pedi-lhe nova explicação.
«Pensa bem: o mesmo se aplica a escrever livros, ou não? Não será o escritor, verdadeiramente, o único interessado naquilo que escreve? Quero dizer, porquê andar a inventar histórias a torto e a direito, a menos que essas histórias sejam a solução, temporária ou absoluta, para um enigma qualquer?»
«Todos temos enigmas por decifrar», repliquei. «No entanto, nem todos lemos ficção. E somos ainda menos os que a escrevemos.»
«Justamente», respondeu Nina. «Porque pessoas diferentes encontram as respostas em lugares diferentes. Algumas pessoas encontram-nas na própria vida; talvez eu faça parte desse grupo. Para outras, as respostas só surgem quando se disfarçam de outra coisa qualquer, de uma pessoa que não são. Quando se metem no lugar de uma personagem e depois a fazem passar por agruras, que é aquilo que acontece nos romances»"

João Tordo, "O Bom Inverno"

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