terça-feira, 19 de maio de 2015

"Como defende Novalis, o papel do artista, do criador, é unir "sem cessar extremos opostos" e "quanto mais opostos melhor". Unir sem cessar pressupõe unir coisas desunidas, desligadas, e quanto mais afastadas, quanto mais improvável a sua ligação, melhor. Digamos que há ligações colectivas, ligações previsíveis, ligações não imaginativas, ligações que ligam coisas próximas, e, do outro lado, ligações individuais, privadas, no sentido em que não pertencem a mais ninguém e não são copiáveis, são surpreendentes; ligações que só podem ser feitas por indivíduos livres, desligados de fórmulas fixas, porque estas emperram, colocam-se à frente da imaginação e impedem o seu funcionamento.
Ver as coisas do mundo desligadas entre si é um ponto de partida para a imaginação, como se viu atrás. Se tudo está desligado, tudo pode ser ligado, sem qualquer ordem pré-definida."

Gonçalo M. Tavares, Atlas do corpo e da imaginação

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